Planejamento urbano, campo intelectual e sistema simbólico: a vida no Banhado, cartão postal de São José dos Campos, SP (1937-2016)
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Resumo
Nesta tese, o planejamento urbano foi estudado a partir dos campos de disputa, como definido por Pierre Bourdieu. O objeto de estudo, a Área de Proteção Ambiental do Banhado, instituída por Lei Estadual em 2002, situa-se na região central de São José dos Campos-SP, cidade de grande porte do interior paulista e sede da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte. A paisagem socioambiental abriga uma comunidade que a habita há cerca de 100 anos, os moradores do Jardim Nova Esperança. Esta pesquisa tem como objetivo analisar, de uma perspectiva histórica e sociológica, o planejamento urbano como campo intelectual e sistema simbólico, bem comoa repercussão das políticas de planejamento urbano sobre uma comunidade em situação de vulnerabilidade socioambiental. Por meio de um estudo de caso, investigou o poder simbólico contido nos discursos de proposições urbanas e ambientais dirigidas a essa área geográfica singular, e à população que a habita. O discurso técnico dos planejadores urbanos foi analisado nos planos de intervenção elaborados entre os anos de 1937 e 2016. O discurso do senso comum foi analisado a partir da produção da mídia e de entrevistas com moradores do Jardim Nova Esperança, compreendidos como formas propositivas de resistência. A triangulação de métodos combinou pesquisa documental, entrevistas semiestruturadas e observação participante. Os materiais foram analisadostendo como eixo o método de análise de conteúdo, a partir das contribuições de Eugene Bardin, orientada pelas três dimensões do espaço, em Henri Lefebvre: espaço percebido, concebido e vivido. Os resultados mostram, historicamente, o predomínio duma visãonatural harmônica nas propostas técnicas de intervenção para a área do Banhado, conformando um habitus no campo de planejamento urbano que orienta a tomada de posição dos agentes e grupos hegemônicos em torno de uma concepção ocidental de modernidade, sustentada na dissociação entre natureza e cultura, que desconsidera e oculta o aspecto de território de vida das pessoas que habitam a paisagem. A resistência, no entanto, é também histórica, se renova em cada geração de moradores, e, influenciada pelo ideário de cada época, possibilita a construção de redes que revelam, nacidade da paisagem naturalizada e da técnica reificada, as possibilidades de vida nos territórios híbridos do Jardim Nova Esperança.