Geografia da radiodifusão: radiocidadania como prática de resistência à plataformização do território comunicacional
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Resumo
Esta tese analisa a desconstrução tecnossocial da radiodifusão pública brasileira e seus impactos na segregação socioespacial devido ao isolamento de ouvintes, problemática que emerge das transformações históricas no setor de telecomunicações, onde o Estado transita de provedor de serviços (desde o período do regime militar) para agente regulador, no contexto da globalização e neoliberalização. O trabalho parte da hipótese de que as tendências regulatórias de difusão de tecnologias hegemônicas e o investimento em transmissões digitais impactam tanto as transmissões de longo alcance (Ondas Curtas e Médias) quanto o alcance geográfico das emissoras. Esse processo – marcado pelo desligamento de transmissores analógicos e pela migração AM-FM, aliado às restrições à radiodifusão comunitária – exclui ouvintes desprovidos de receptores com a nova tecnologia. Metodologicamente, o estudo combina: (1) a radioescuta ativa da Rádio Nacional da Amazônia e de redes comunitárias, com registro sistemático de interações e barreiras técnicas; (2) a cartografia crítica baseada em metadados geoespaciais do catálogo da INDE, cruzando a distribuição territorial das emissoras com indicadores socioeconômicos para identificar vazios de cobertura; e (3) o mapeamento de redes de rádio e ouvintes através de participação em transmissões ao vivo da EBC e entrevistados da Rede Abraço, revelando estratégias de resistência. Os resultados demonstram como essas transformações tecnológicas e normativas reconfiguram radicalmente o espaço geográfico e comunicacional, depreciando o valor social do rádio e criando formas de exclusão, ao mesmo tempo que estimulam contra-racionalidades no exercício da radiocidadania por parte de movimentos sociais em defesa da comunicação pública e popular.